segunda-feira, 26 de abril de 2010

A versão do mosquito?

Natália, nossa amiga, nos presenteou com o seguinte texto.
Seria uma versão do mosquito transmissor da dengue?
Ponto de Vista
Por: Natália B. Koren
Era o caos. Eles vinham como uma praga, destruindo nossas casas e matando nossos filhos. Não mediam esforços para que nos dispersássemos, arrasados, sem abrigo e sem família. Simplesmente horrível. Homens mascarados, carregando máquinas que cuspiam um gás venenoso e nos expulsavam de nossos lares. Tentávamos nos esconder, muitos fugiam, mas sempre havia aqueles que sucumbiam à fúria dos homens de uniforme.
Não digo que éramos completamente inocentes. Toda sociedade tem seus podres, toda árvore tem seus frutos estragados. Entre nós viviam os indivíduos maléficos também, os que eram sujos por dentro, que disseminavam a doença e o pavor por onde passavam. E o pior é que estes eram tão semelhantes a nós, os pacíficos, que nem podíamos culpar nossos agressores por nos atacarem de forma indiscriminada. Não havia como nos diferenciar, a não ser quando o mal já estava feito. E ainda que investissem com raiva contra nós, podíamos também enxergar o medo nos olhos deles.
Afinal, nós sempre fomos sobreviventes. Se fôssemos expulsos de algum lugar, logo procurávamos um novo começo, nos misturávamos a outras populações, tínhamos nossos filhos em paz e logo nos restabelecíamos. Tiravam nossas plantas, tiravam nossas águas, mas sempre voltávamos. E eles sempre travam uma guerra contra nós, porque sempre havia um de nós para atrapalhar a vida deles. Tínhamos que admitir que sempre demos o primeiro passo no caminho da discórdia, e incitamos o ódio deles contra nós.
Em tudo isso eu pensava enquanto fugia daquela fumaça nociva. Não tive escolha se não abandornar meus filhos, torcendo para que não fossem encontrados em meio aos pneus velhos que se amontoavam no jardim. Vi muitos de meus companheiros levantarem como nuvens em todas as direções, e com muito esforço voei um pouco mais alto. Observei, e não nego um pouco de satisfação nisso, muitos dos meus conterrâneos infectados serem extintos pelo vapor insalubre que despejavam os aparelhos dos homens de máscara. Não pude deixar de pensar, com certa tristeza: maldita hora em que evoluímos. Mais do que sobreviventes, nos tornamos uma praga a ser eliminada. Agora, jamais teríamos paz, nós os Aedes aegypti.

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